As instituições financeiras, incluindo fintechs e fundos de investimento, são peças-chave na engrenagem de lavagem de dinheiro para organizações criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital). A informação foi revelada pelo MPSP (Ministério Público de São Paulo), durante uma megaoperação deflagrada nessa quinta-feira (28).
Através de estratégias complexas, esses mecanismos buscam ocultar a origem e o destino de recursos ilícitos, conferindo-lhes uma falsa aparência de legalidade no mercado formal.
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Um dos principais métodos empregados envolve o uso de "contas bolsões" por instituições de pagamento. Neste modelo, os valores de múltiplos clientes são agregados em uma única conta da instituição, permitindo que as compensações financeiras sejam realizadas internamente.
Essa prática cria uma camada significativa de opacidade, tornando o rastreamento dos recursos extremamente difícil e inibindo os sistemas antilavagem de capitais.
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Escolha de fintechs
As investigações revelaram que a preferência por fintechs, em detrimento de bancos tradicionais, não é acidental. O MPSP acredita que ela visa justamente dificultar o rastreamento do dinheiro.
Além disso, algumas fintechs operavam com contabilidade paralela, facilitando transferências entre empresas e pessoas físicas sem a devida identificação dos beneficiários finais, transformando-as em verdadeiros "bancos paralelos" que movimentaram bilhões.
Método de ocultação
Fundos de investimento e empresas de participação são amplamente utilizados para ocultar a titularidade na aquisição de ativos. Isso inclui desde posições societárias até aquisições de usinas sucroalcoaleiras, e bens como veículos e imóveis.
Essas estruturas criam múltiplas camadas societárias e financeiras complexas, dificultando a identificação dos reais proprietários, gestores e beneficiários finais.
A organização criminosa conta com prestadores de serviços especializados, como administradores e gestores de fundos de investimento, para auxiliar na ocultação e blindagem patrimonial. A investigação revelou como empresas foram criadas para essa estratégia, abrigando imóveis do grupo investigado e servindo como ferramenta de lavagem de capitais.
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Injeção de ilícito no mercado formal
Os lucros bilionários gerados por fraudes, como adulteração de combustíveis e sonegação de tributos, são sistematicamente inseridos no mercado formal através dessas instituições.
Fundos de investimento, por exemplo, adquirem títulos de empresas ligadas aos próprios beneficiários do esquema, gerando sérias suspeitas de fraude e lavagem de capitais.
Muitos fundos de investimento instrumentalizados pelo grupo apresentam cotistas únicos ou uma completa ausência de clareza sobre a titularidade dos cotistas, que são propositalmente ocultados em documentos.
Essa opacidade nas fintechs foi descrita por Robinson Barreirinhas, secretário da Receita Federal, como um "paraíso fiscal no Brasil", favorecendo o crime organizado.
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